sábado, março 13, 2010

Conheça o Reverendo superstar


Conheça o Reverendo superstar

O Reverendo Billy não é um pastor de verdade, é um ator. Sua igreja, a The Church of Life After Shopping [Igreja da Vida Pós-Compras], não é de fato uma congregação religiosa. Quando vai a uma loja do Starbucks e encena exorcizar uma máquina registradora, Bill Talen (seu nome verdadeiro) não expurga espíritos ou qualquer sorte de demônio do aparelho que colhe os lucros da empresa. Billy diz sim lutar contra o diabo, mas ele não é um anjo caído: chama-se Mickey Mouse.
Inspirado pelos pastores de rua que discursam aos berros pelas ruas de grandes cidades, o Reverendo resolveu adotar seus maneirismos e começar o exorcismo contra Walt Disney, que há 10 anos investiu pesadamente contra os arredores da Times Square, em Nova York. construindo grandes lojas e enchendo os teatros da Broadway de peças baseadas em seus filmes. As prostitutas, os mendigos e os vendedores foram retirados das ruas e presos, justamente as pessoas mais interessantes do bairro, segundo ele.
Imagem: Fred Askew
Reverendo Billy emociona fiel na Times Square, em Nova York
Hoje a igreja de Bill faz palestras sobre como lutar contra o diabo em pequenas comunidades, teatros e igrejas. O mote principal de seu ministério, como sugere o nome, é lutar contra o consumismo e informar as pessoas de que suas compras têm impactos globais. Nos workshops e campanhas da igreja, as pessoas aprendem a dar valor à economia local e a procurar saber como são feitos os produtos que se consome. Sua equipe oferece também aconselhamento para os que querem se livrar das dívidas do cartão de crédito. Martin Luther King, Malcom X, o brasileiro Augusto Boal (dramaturgo fundador do Teatro do Oprimido), são algumas das bases da The Church of Life After Shopping. Os métodos não ortodoxos do pastor renderam um documentário em 2005 sobre seus happenings, What would jesus buy?, dirigido por Morgan Spurlock (de Supersize me).
No ano passado, Billy fez uma turnê pelo Reino Unido com sua Shopocalypse Tour; já protestou campanha contra a impressão dos catálogos da Victoria’s Secret [que desperdiçam muito papel, segundo Billy]. Munido de seu megafone, seu coral (que pode ter até 45 pessoas, dependendo da ocasião) e das palavras “divinas” contra o consumo exagerado, o Reverendo já foi preso cerca de 50 vezes por perturbar a ordem pública.
Oscilando entre ativista e pastor, o Reverendo Billy conversou por telefone com a Trip, de Nova York. Ora dava gritos, como se desse um sermão, ora bradava contra os bancos de Wall Street. Chamando o repórter pelo nome o tempo todo, ofereceu batizar seus futuros filhos via Skype, depois de explicar que o diabo tem muitas faces no capitalismo.
De onde vem o seu gospel?
Subcomandante Marcos, Walt Whitman, Malcom X, muitas fontes. Um dos nossos heróis é brasileiro, Augusto Boal. Ele é muito importante para o nosso trabalho.
Como sua igreja começou?
Eu morava perto da Times Square em Nova York e a polícia sempre prendia as pessoas mais interessantes do bairro. Personagens que ficavam fazendo discursos na calçada, a prostituta com coração de ouro e vendedores de falafel e hot dogs. Elas estavam sendo levadas. Você sempre ouvia: “O Sammy está na cadeia, o Gene foi levado a um abrigo”. Acontece que as empresas Walt Disney, o Mickey Mouse, estava se mudando para o nosso bairro e a polícia de [Rudolph] Giuliani, o prefeito então, estava prendendo as pessoas em cooperação com Mickey Mouse. Estavam construindo teatros Disney, com peças Disney e lojas Disney com todas aquelas coisinhas e o Mickey Mouse estava construindo uma estátua na Times Square. A Times Square é também um lugar com muitas criaturas na calçada pregando coisas do tipo “fogo e enxofre”, fundamentalistas de direita.
Eles estavam sendo presos também?
Eles deveriam ter sido presos [risos]! Eu comecei a estudar e imita-los na frente da loja da Disney, há 10 anos, e comecei a pregar [levanta a voz e fala como pastor]: “Mickey Mouse é o anticristo, crianças! Eu quero que vocês afastem suas famílias deste templo da desigualdade! Não há nada além de produtos feitos em sweatshops nestas prateleiras!
“Há 10 anos comecei a pregar [levanta a voz e fala como pastor]: ‘Mickey Mouse é o anticristo, crianças! Eu quero que vocês afastem suas famílias deste templo da desigualdade!’”

E o que aconteceu?
Quando meu dei conta, havia uma multidão um volta de mim, e algumas pessoas estavam batendo palmas e cantando. Agora eu tenho um coral de 40 vozes.
As pessoas começaram a cantar espontaneamente?
Sim. Elas batiam palmas. Como num culto do domingo. Depois de um tempo, passávamos o microfone pelas pessoas e elas discutiam o consumismo, como as corporações estão dominando nossas vidas. Aqui na Times Square, eles estão transformando o espaço público internacional num shopping gigante e isso está acontecendo no mundo todo. Tem todo tipo de gente na Times Square, pessoas do Brasil, Japão, Rússia e elas contam que isso acontece no país delas também.
Desde que você fundou a Church of Life After Shopping, você virou um pastor em tempo integral?
Sim, Savitry D. [sua esposa] e eu nos casamos perto do 11 de Setembro e ela é diretora de teatro. Algumas de nossas performances são no palco, como uma peça interativa, baseada num culto, uma performance gospel empolgante. Ativistas locais sobem ao palco e falam sobre como resistir ao consumismo, crianças são batizadas para uma vida além das compras… Se você tiver filhos, traga-os a Nova York. Ou eu posso fazer um batismo via Skype, não tem problema. O consumismo está nos atacando por todos os lados e temos de ajudar uns aos outros.
O coral da The Church of Life After Shopping canta “Shopocalypse song”:
O anticristo é o Mickey?
Há um sistema de alternância de diabos. Agora, são os bancos de Wall Street que financiam o carvão sujo. Nós temos um processo de mineração que é chamado mountain top removal, no qual basicamente eles explodem uma montanha e deixam as pedras e resíduos de lado para chegar ao carvão. É ruim para o clima, envenena as pessoas das comunidades locais. Esses bancos são o diabo do momento, o JPMorgan Chase. Nós vamos juntar a sujeiras da West Virgina, vamos aos lobbies dos bancos [que financiam esse tipo de mineração] e vamos fazer como o Richard Dreyfuss no [filme] Contatos imediatos de terceiro grau, vamos ficar fazendo montanhas. Mas acho que somos mais famosos por exorcizar o demônio das caixas registradoras do Starbucks.
Como eles conseguiram convencer as pessoas de que são uma boa empresa?
Eles têm técnicas de marketing muito boas – o Starbucks sempre tem um anúncio de página inteira no New York Times, todo verde… Mas de fato, eles não são uma companhia que negocia com justiça. Nos leilões de grãos de café, segundo as nossas evidências, eles são brutais, não pagam o suficiente. Eles são brutais, as famílias que levam os grãos ao mercado frequentemente têm filhos desnutridos. Eles desafiam a classe média consumidora em certos países ocidentais, especialmente nos EUA e na Europa, eles saturam com marketing mesmo aqueles que possam ter uma posição política que demande mudança. Nos anúncios você vê camponeses felizes perto do seu pé de café.
Quantas vezes você foi preso?
Cerca de 50 vezes. Geralmente só fico preso até o dia seguinte ou por algumas horas, às vezes só tenho que ficar sentado na viatura por um tempo.
Do que eles acusam você?
Eles têm muitas acusações: conduta desordeira, interrupção de negócios, invasão de propriedade…
Fonte: Revista TRIP / Solomom / Gospel Prime

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